Não sei o
quão grande será esse texto, apenas decidi começar a escrever. Se um dia vou
postar em algum lugar também não sei. Talvez fique no meu computador por um
tempo.
Próximo aos
40 anos sinto-me feliz pelas decisões que tomei em minha vida. Algumas delas eu
não tomei, apenas aconteceram. Porém eu mesmo fui responsável pelo meu futuro,
escolhi o que escolhi. Poderia ter traçado um caminho diferente, lá atrás, 20
anos atrás e tocar o negócio do meu pai. Decidi que não, segui outra vida. Para
sorte ou azar do meu irmão, essa função (benção ou maldição) ficou para ele.
Em 2007
minha vida no Agility começou, talvez para desespero do meu pai que sonhava em
ver um filho doutor tratando de animais em um consultório, o agility me levou
para outro caminho. Me formei e fui me especializar em comportamento canino.
Enfim, em 2008
nasceu a Cãopetição. Com certeza o mais bem sucedido projeto da minha vida. Em
meio a um mercado onde ninguém conseguia fazer grana com agility, eu fiz. A
escola cresceu, desenvolveu, iniciou dezenas de duplas, trouxe títulos e chegou
a ser a segunda escola de Agility do país em numero de cães em pistas e
resultados.
Mas foi em
2010 que aconteceu o “começo do fim”. Com a escola estável e cada vez mais
duplas chegando, sucumbi a pressão psicológica do meu pai, que como sempre
gostava de me azucrinar dizendo: “Você é um médico veterinário! Quando vai
parar de brincar com cachorro e começar a trabalhar?”. E assim foi, e em 2010
inaugurou-se a Clínica Cãopetição, o começo do fim.
Sempre tive
pessoas boas trabalhando para mim na Clinica, e com certeza se não fossem essas
pessoas teríamos problemas maiores.
No primeiro
ano, enquanto a escola de Agility crescia, a Clinica ainda em processo de
estabilização sugava o rendimento da escola. Era tirar dinheiro da escola e
botar na Clinica, essa era a rotina. Mas tudo bem, afinal era um novo negócio e
é assim mesmo.
Mas meu
erro foi não dar atenção necessária que todo novo negócio necessita. 80% do meu
tempo eu estava na escola de Agility e a Clínica ficava por ela mesma. E é
claro, essa era a receita para o fracasso.
2012, o ano
negro
Chamo 2012
de um dos mais negros anos da minha vida. Sabe aquele ano que nada dá certo?
Pois é. Esse foi meu 2012, o ano do fim do mundo. Alguém se lembra?
Final de
2011 eu estava financeiramente quebrado, tendo usado todas as pequenas reservas
que tinha na possibilidade de uma recuperação da Clinica, que nunca aconteceu.
Pela primeira vez tive meu nome envolvido em protestos e dívidas, algo novo
para mim.
Mas o ano
de 2012 começou com uma esperança, boba, porém uma esperança de alegria: O
Américas & Caribe no Chile. Era o momento onde eu estava voando com Brown,
vencendo provas no Grau 3, bem qualificado no Campeonato Brasileiro e esperando
ansiosamente meu nome na lista do time, o que não aconteceu. Fiquei chateado,
deprimido, mal. Pensei em não ir, mesmo perdendo a grana da passagem e hotel
que já estavam pagos
Porém, lá
me fui! Sendo colocado em um time no Open onde era parceiro de 3 outros cães de
grau 2. Na verdade, eu fui o unico condutor de Grau 3 naquele A&C que
competiu pelo Open com outros 3 cães de grau 2 no time. Nada contra meus
companheiros de equipe (um deles é um grande amigo até hoje), mas achei que
naquela época merecia estar em um time com outros condutores de Grau 3.
Fracassamos no time.
Mas não no
individual! Terminando em 5º no geral e recebendo congratulações de várias
pessoas que inclusive sussuravam no meu ouvido: “Você deveria ter estado no
time”, me fez me sentir um pouco melhor.
Três meses
depois, lá me fui outra vez para uma prova internacional: o pequeno e novo OLA
ou Open Latino Americano na Guatemala. Que mesmo sendo um torneio pequeno, fui
com orgulho de representar o país, e venci. Mas nunca houve nenhum
reconhecimento por parte da CBA, nem mesmo uma citação no site. Era isso, em
2012 (no ano negro) o Agility morreu pra mim.
Deixei de
ir em provas, não tinha mais vontade. Acordar de manhã e me preparar para ir
para uma prova que sempre foi algo bem bacana para mim, havia se tornado algo
horrível.
A Clinica
fechou no mesmo ano, comecei a ter problemas com alunos (que nunca havia
acontecido antes). Discussões e grupinhos se formaram dentro da Cãopetição.
Algo que eu sempre havia lutado contra com muito sucesso. Resultado do meu
comportamento instável do momento, tudo culpa minha.
E a
avalanche continuou. Lá se foi a namorada, e problemas de relacionamento com a
familia surgiram. Quando menos percebi estava em depressão. E isso tudo
aconteceu em um período inferior a 10 meses. Muita coisa pra processar em pouco
tempo.
Em Agosto
de 2012 vários pensamentos rondavam a minha cabeça sobre como eu iria sair
daquela situação horrível. A terapia me ajudou demais e algumas decisões eu já
havia tomado. Voltar a estudar no ano seguinte (2013) e passar a Cãopetição pra
frente. Não fechar a escola, mas vendê-la. Acreditem ou não a venda da
Cãopetição já estava praticamente fechada para uma pessoa que não vem ao caso
agora mencionar e meus planos em fazer uma pós-graduação na Universidade Metodista
em São Bernardo do Campo estavam caminhando bem. Mas em Setembro de 2012 a
pessoa desistiu da compra da escola de Agility e novamente entrei no impasse
sobre o que fazer com a escola. Honestamente eu não queria fecha-la, ainda
tinha planos de continuar treinando, e na minha cabeça, virar apenas um
competidor poderia me trazer de volta a motivação para ir em provas. Ter uma
escola perto de casa iria ajudar nesse processo.
Mas foi aí
que algo inesperado aconteceu.
Welcome, my
friend
Novembro de
2012 e sobre intensas recomendações da minha terapeuta lá fui eu para uma
viagem de férias, algo que não fazia a muito tempo. Desligar um pouco do mundo
e recarregar as baterias. Acompanhado de minha mãe fomos a uma viagem a terra
do Tio Sam, mais precisamente em Orlando na Flórida.
Se você nunca
foi para Orlando, saiba que todos que vão têm um planejamento de dias. Um dia
na Disney, um dia na Universal Studios, Sea World, compras e por aí vai.
Existem os chamados dias livres onde podemos fazer o que quiser, ficar apenas
na piscina do Hotel, andar pela cidade, etc. Adivinha o que eu fiz no meu dia
livre? Fui em uma escola de Agility.
Visitar um
centro de treinamento de cães na América foi como segurar um cabo de alto-tensão.
Um choque que poderia me matar, porém que me deu super-poderes. Toda a paixão
veio a tona. Mas não foi apenas visitar uma escola de Agility que me encantou
nos Estados Unidos. Ver um país de primeiro mundo com trânsito organizado, mais
segurança, ruas limpas e excepcionais escolas mexeu comigo.
Com os
planos de fazer uma pós-graduação no ano seguinte e tendo eu passado por essa
experiência em outro país, meu vôo de volta foi inteiro pensando sobre como
seria tentar a vida na América. Um longo pensamento de 9 horas em minha mente.
Depois de
algumas pesquisas, descobri que nenhuma Universidade me aceitaria se meu inglês
não fosse fluente e com isso comecei a pesquisar Universidades em Orlando com
programas de inglês para estrangeiros.
Em Dezembro
de 2012, apenas três semanas após meu retorno de minha viagem de férias
oficialmente enviei minha documentação para o Valencia College, uma faculdade
em Orlando com programa de inglês para imigrantes e com redirecionamento para a
Universidade.
Em Janeiro
de 2013, na primeira semana do ano, recebi um email com minha carta de
aceitação na Universidade.
Duas
semanas depois, ainda em janeiro lá fui eu novamente voando para Orlando para fazer
minha matrícula com as aulas começando em Abril. Mas o processo ainda não
estava pronto, afinal ainda precisava da aprovação do visto pelo Consulado
Americano em São Paulo.
Paralelo a
isso tudo, a Cãopetição ainda funcionava. Eu havia deixado de ir em provas e
ainda procurava por um comprador. A idéia não era de fechar a escola.
Foi na
primeira semana de Fevereiro que eu fui até o Consulado Americano em São Paulo
e obtive aprovação e visto carimbado. Estava realmente acontecendo. Com tudo
aprovado, era hora. A mudança para os Estados Unidos aconteceria em Abril.
Uma noite
triste
Em
fevereiro de 2013 eu reuni todos os alunos da escola, sem excessão. Convidei a
todos que comparecessem em uma noite para termos uma conversa. Foi uma noite
muito difícil para mim quando anunciei o encerramento da escola. A Cãopetição
estava fechando. Acho que fiz da maneira correta. Cara a cara, nada de emails
ou algo por escrito, todos mereciam o respeito de ouvir direto da minha boca,
frente a frente.
Dava para
ver a tristeza na cara de todos mas como eu digo sempre amigos são amigos e a
maioria massacrante veio me dar um abraço de boa sorte em minha nova
empreitada. Acreditem, eu lembro de cada um até hoje. Eu juro.
A
Cãopetição continuou com suas atividades até o último dia do mês de fevereiro
de 2013 e depois se encerrou.
Em março de
2013 decidi realizar minha última prova de Agility antes da minha partida e fiz
uma homenagem a escola que me iniciou: a DOG WORLD, competi sob os nomes e
cores da escola que me fez com que eu me apaixonasse por esse esporte.
No dia 3 de
Abril de 2013 eu desembarquei de mala e cuia (e cães) nos Estados Unidos, onde
estou até hoje. E sim, existe uma possibilidade que eu retorne ao Brasil até o
final de 2017 quando meus documentos expiram. Se a imigração vai permitir que
eu fique ainda não sei mas viver ilegal aqui eu não vou. Nunca (NUNCA) fui um
desses brasileiros que se mudam para outro país e massacram o Brasil em
comentários. Pelo contrário, sempre falei que você não pode esquecer suas
raízes e respeitar de onde veio. Se tiver que voltar, volto! E volto pro
Agility.
Escrevi
esse post porque...sei lá porque, apenas quis dividir minha história, meus
sentimentos e dizer que sou grato pelos bons e maus momentos. A vida é uma
jornada e não perca seu tempo com coisas imbecis. Se você sobreviveu a esse
texto, de coração eu agradeço!
A decisão que vc tomar querido nós como seus amigos apoiaremos incondicionalmente.A vida é para ser vivida intensamente cheia de aprendizados acertos e erros.Cabe aos amigos apoiar e te incentivar sempre a crescer e crescer e crescer sempre como ser humano!!!!!!!!!!!!!!!
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