terça-feira, 25 de outubro de 2016

Abrindo o jogo!

Não sei o quão grande será esse texto, apenas decidi começar a escrever. Se um dia vou postar em algum lugar também não sei. Talvez fique no meu computador por um tempo.


Próximo aos 40 anos sinto-me feliz pelas decisões que tomei em minha vida. Algumas delas eu não tomei, apenas aconteceram. Porém eu mesmo fui responsável pelo meu futuro, escolhi o que escolhi. Poderia ter traçado um caminho diferente, lá atrás, 20 anos atrás e tocar o negócio do meu pai. Decidi que não, segui outra vida. Para sorte ou azar do meu irmão, essa função (benção ou maldição) ficou para ele.

Em 2007 minha vida no Agility começou, talvez para desespero do meu pai que sonhava em ver um filho doutor tratando de animais em um consultório, o agility me levou para outro caminho. Me formei e fui me especializar em comportamento canino.

Enfim, em 2008 nasceu a Cãopetição. Com certeza o mais bem sucedido projeto da minha vida. Em meio a um mercado onde ninguém conseguia fazer grana com agility, eu fiz. A escola cresceu, desenvolveu, iniciou dezenas de duplas, trouxe títulos e chegou a ser a segunda escola de Agility do país em numero de cães em pistas e resultados.

Mas foi em 2010 que aconteceu o “começo do fim”. Com a escola estável e cada vez mais duplas chegando, sucumbi a pressão psicológica do meu pai, que como sempre gostava de me azucrinar dizendo: “Você é um médico veterinário! Quando vai parar de brincar com cachorro e começar a trabalhar?”. E assim foi, e em 2010 inaugurou-se a Clínica Cãopetição, o começo do fim.

Sempre tive pessoas boas trabalhando para mim na Clinica, e com certeza se não fossem essas pessoas teríamos problemas maiores.

No primeiro ano, enquanto a escola de Agility crescia, a Clinica ainda em processo de estabilização sugava o rendimento da escola. Era tirar dinheiro da escola e botar na Clinica, essa era a rotina. Mas tudo bem, afinal era um novo negócio e é assim mesmo.

Mas meu erro foi não dar atenção necessária que todo novo negócio necessita. 80% do meu tempo eu estava na escola de Agility e a Clínica ficava por ela mesma. E é claro, essa era a receita para o fracasso.

2012, o ano negro

Chamo 2012 de um dos mais negros anos da minha vida. Sabe aquele ano que nada dá certo? Pois é. Esse foi meu 2012, o ano do fim do mundo. Alguém se lembra?
Final de 2011 eu estava financeiramente quebrado, tendo usado todas as pequenas reservas que tinha na possibilidade de uma recuperação da Clinica, que nunca aconteceu. Pela primeira vez tive meu nome envolvido em protestos e dívidas, algo novo para mim.
Mas o ano de 2012 começou com uma esperança, boba, porém uma esperança de alegria: O Américas & Caribe no Chile. Era o momento onde eu estava voando com Brown, vencendo provas no Grau 3, bem qualificado no Campeonato Brasileiro e esperando ansiosamente meu nome na lista do time, o que não aconteceu. Fiquei chateado, deprimido, mal. Pensei em não ir, mesmo perdendo a grana da passagem e hotel que já estavam pagos
Porém, lá me fui! Sendo colocado em um time no Open onde era parceiro de 3 outros cães de grau 2. Na verdade, eu fui o unico condutor de Grau 3 naquele A&C que competiu pelo Open com outros 3 cães de grau 2 no time. Nada contra meus companheiros de equipe (um deles é um grande amigo até hoje), mas achei que naquela época merecia estar em um time com outros condutores de Grau 3. Fracassamos no time.
Mas não no individual! Terminando em 5º no geral e recebendo congratulações de várias pessoas que inclusive sussuravam no meu ouvido: “Você deveria ter estado no time”, me fez me sentir um pouco melhor.
Três meses depois, lá me fui outra vez para uma prova internacional: o pequeno e novo OLA ou Open Latino Americano na Guatemala. Que mesmo sendo um torneio pequeno, fui com orgulho de representar o país, e venci. Mas nunca houve nenhum reconhecimento por parte da CBA, nem mesmo uma citação no site. Era isso, em 2012 (no ano negro) o Agility morreu pra mim.
Deixei de ir em provas, não tinha mais vontade. Acordar de manhã e me preparar para ir para uma prova que sempre foi algo bem bacana para mim, havia se tornado algo horrível.

A Clinica fechou no mesmo ano, comecei a ter problemas com alunos (que nunca havia acontecido antes). Discussões e grupinhos se formaram dentro da Cãopetição. Algo que eu sempre havia lutado contra com muito sucesso. Resultado do meu comportamento instável do momento, tudo culpa minha.

E a avalanche continuou. Lá se foi a namorada, e problemas de relacionamento com a familia surgiram. Quando menos percebi estava em depressão. E isso tudo aconteceu em um período inferior a 10 meses. Muita coisa pra processar em pouco tempo.

Em Agosto de 2012 vários pensamentos rondavam a minha cabeça sobre como eu iria sair daquela situação horrível. A terapia me ajudou demais e algumas decisões eu já havia tomado. Voltar a estudar no ano seguinte (2013) e passar a Cãopetição pra frente. Não fechar a escola, mas vendê-la. Acreditem ou não a venda da Cãopetição já estava praticamente fechada para uma pessoa que não vem ao caso agora mencionar e meus planos em fazer uma pós-graduação na Universidade Metodista em São Bernardo do Campo estavam caminhando bem. Mas em Setembro de 2012 a pessoa desistiu da compra da escola de Agility e novamente entrei no impasse sobre o que fazer com a escola. Honestamente eu não queria fecha-la, ainda tinha planos de continuar treinando, e na minha cabeça, virar apenas um competidor poderia me trazer de volta a motivação para ir em provas. Ter uma escola perto de casa iria ajudar nesse processo.
Mas foi aí que algo inesperado aconteceu.

Welcome, my friend

Novembro de 2012 e sobre intensas recomendações da minha terapeuta lá fui eu para uma viagem de férias, algo que não fazia a muito tempo. Desligar um pouco do mundo e recarregar as baterias. Acompanhado de minha mãe fomos a uma viagem a terra do Tio Sam, mais precisamente em Orlando na Flórida.

Se você nunca foi para Orlando, saiba que todos que vão têm um planejamento de dias. Um dia na Disney, um dia na Universal Studios, Sea World, compras e por aí vai. Existem os chamados dias livres onde podemos fazer o que quiser, ficar apenas na piscina do Hotel, andar pela cidade, etc. Adivinha o que eu fiz no meu dia livre? Fui em uma escola de Agility.

Visitar um centro de treinamento de cães na América foi como segurar um cabo de alto-tensão. Um choque que poderia me matar, porém que me deu super-poderes. Toda a paixão veio a tona. Mas não foi apenas visitar uma escola de Agility que me encantou nos Estados Unidos. Ver um país de primeiro mundo com trânsito organizado, mais segurança, ruas limpas e excepcionais escolas mexeu comigo.
Com os planos de fazer uma pós-graduação no ano seguinte e tendo eu passado por essa experiência em outro país, meu vôo de volta foi inteiro pensando sobre como seria tentar a vida na América. Um longo pensamento de 9 horas em minha mente.

Depois de algumas pesquisas, descobri que nenhuma Universidade me aceitaria se meu inglês não fosse fluente e com isso comecei a pesquisar Universidades em Orlando com programas de inglês para estrangeiros.
Em Dezembro de 2012, apenas três semanas após meu retorno de minha viagem de férias oficialmente enviei minha documentação para o Valencia College, uma faculdade em Orlando com programa de inglês para imigrantes e com redirecionamento para a Universidade.

Em Janeiro de 2013, na primeira semana do ano, recebi um email com minha carta de aceitação na Universidade.
Duas semanas depois, ainda em janeiro lá fui eu novamente voando para Orlando para fazer minha matrícula com as aulas começando em Abril. Mas o processo ainda não estava pronto, afinal ainda precisava da aprovação do visto pelo Consulado Americano em São Paulo.

Paralelo a isso tudo, a Cãopetição ainda funcionava. Eu havia deixado de ir em provas e ainda procurava por um comprador. A idéia não era de fechar a escola.

Foi na primeira semana de Fevereiro que eu fui até o Consulado Americano em São Paulo e obtive aprovação e visto carimbado. Estava realmente acontecendo. Com tudo aprovado, era hora. A mudança para os Estados Unidos aconteceria em Abril.

Uma noite triste

Em fevereiro de 2013 eu reuni todos os alunos da escola, sem excessão. Convidei a todos que comparecessem em uma noite para termos uma conversa. Foi uma noite muito difícil para mim quando anunciei o encerramento da escola. A Cãopetição estava fechando. Acho que fiz da maneira correta. Cara a cara, nada de emails ou algo por escrito, todos mereciam o respeito de ouvir direto da minha boca, frente a frente.

Dava para ver a tristeza na cara de todos mas como eu digo sempre amigos são amigos e a maioria massacrante veio me dar um abraço de boa sorte em minha nova empreitada. Acreditem, eu lembro de cada um até hoje. Eu juro.

A Cãopetição continuou com suas atividades até o último dia do mês de fevereiro de 2013 e depois se encerrou.

Em março de 2013 decidi realizar minha última prova de Agility antes da minha partida e fiz uma homenagem a escola que me iniciou: a DOG WORLD, competi sob os nomes e cores da escola que me fez com que eu me apaixonasse por esse esporte.

No dia 3 de Abril de 2013 eu desembarquei de mala e cuia (e cães) nos Estados Unidos, onde estou até hoje. E sim, existe uma possibilidade que eu retorne ao Brasil até o final de 2017 quando meus documentos expiram. Se a imigração vai permitir que eu fique ainda não sei mas viver ilegal aqui eu não vou. Nunca (NUNCA) fui um desses brasileiros que se mudam para outro país e massacram o Brasil em comentários. Pelo contrário, sempre falei que você não pode esquecer suas raízes e respeitar de onde veio. Se tiver que voltar, volto! E volto pro Agility.

Escrevi esse post porque...sei lá porque, apenas quis dividir minha história, meus sentimentos e dizer que sou grato pelos bons e maus momentos. A vida é uma jornada e não perca seu tempo com coisas imbecis. Se você sobreviveu a esse texto, de coração eu agradeço!


Um comentário:

  1. A decisão que vc tomar querido nós como seus amigos apoiaremos incondicionalmente.A vida é para ser vivida intensamente cheia de aprendizados acertos e erros.Cabe aos amigos apoiar e te incentivar sempre a crescer e crescer e crescer sempre como ser humano!!!!!!!!!!!!!!!

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